Afluentes do mar de Deus
5 de Agosto. Quinta-feira. Sol a pique. Vinha da feira, arrependida por lá ter ido. Filas de carros, calor abrasador, confusão de gente e de línguas…
- Qu’est-ce? Não mexas aí, eu não te disse para não trazer o miúdo?
- Três oiros.
- Oh c’est trop cher! Num sei se tá pior aqui ou lá…
Dei comigo com vontade de gritar «a minha pátria é a língua portuguesa» eternizando o autor da frase, Fernando Pessoa. Não o fiz e ala que se faz tarde, com zigues e zagues rumei para casa.
Quando me aproximava do prédio onde vivo, na Quinta Nova antes de S. João de Deus, vejo um grupo de homens, destacando-se um com batina e um outro à cabeça do grupo com o crucifixo levantado, quase rumo ao céu, imponente… Segui-lhes os passos com Jesus Cristo na cruz a indicar caminhos. Mesmo em frente ao meu prédio, pararam debaixo de uma árvore, formaram um círculo e no centro ficou o padre e o jovem que elevava o crucifixo. Abeirei-me timidamente para não importunar. E rezaram… Rezaram o Pai Nosso e Glória em espanhol. Rezei com eles em português, porque entretanto fizeram-me um gesto para me aproximar. Fizeram uns minutos de silêncio com os olhos postos no Guia, o Guia de todos os caminhos, destes da terra e dos outros, os insondáveis, transcendentais, mais difíceis porque não são calcorreados com os pés.
Quando partiam, perguntei-lhes de onde vinham. Partiram de Lisboa, foram a Fátima e iam para Santiago de Compostela.
Eu ia para casa. Com um sorriso nos lábios. E com Jesus elevado na janela do meu olhar.
Interiormente repetia em português, em francês, em galego, em inglês, em italiano «Que lindo!», «Que c’est beau!», «Que hermoso!», «How beautiful!», «Che bello!». Concluí que «a minha pátria é a língua portuguesa» e o meu lar é um dos caminhos porque todos os caminhos vão desaguar em Deus.
Virgínia Rafael
5 de Agosto. Quinta-feira. Sol a pique. Vinha da feira, arrependida por lá ter ido. Filas de carros, calor abrasador, confusão de gente e de línguas…
- Qu’est-ce? Não mexas aí, eu não te disse para não trazer o miúdo?
- Três oiros.
- Oh c’est trop cher! Num sei se tá pior aqui ou lá…
Dei comigo com vontade de gritar «a minha pátria é a língua portuguesa» eternizando o autor da frase, Fernando Pessoa. Não o fiz e ala que se faz tarde, com zigues e zagues rumei para casa.
Quando me aproximava do prédio onde vivo, na Quinta Nova antes de S. João de Deus, vejo um grupo de homens, destacando-se um com batina e um outro à cabeça do grupo com o crucifixo levantado, quase rumo ao céu, imponente… Segui-lhes os passos com Jesus Cristo na cruz a indicar caminhos. Mesmo em frente ao meu prédio, pararam debaixo de uma árvore, formaram um círculo e no centro ficou o padre e o jovem que elevava o crucifixo. Abeirei-me timidamente para não importunar. E rezaram… Rezaram o Pai Nosso e Glória em espanhol. Rezei com eles em português, porque entretanto fizeram-me um gesto para me aproximar. Fizeram uns minutos de silêncio com os olhos postos no Guia, o Guia de todos os caminhos, destes da terra e dos outros, os insondáveis, transcendentais, mais difíceis porque não são calcorreados com os pés.
Quando partiam, perguntei-lhes de onde vinham. Partiram de Lisboa, foram a Fátima e iam para Santiago de Compostela.
Eu ia para casa. Com um sorriso nos lábios. E com Jesus elevado na janela do meu olhar.
Interiormente repetia em português, em francês, em galego, em inglês, em italiano «Que lindo!», «Que c’est beau!», «Que hermoso!», «How beautiful!», «Che bello!». Concluí que «a minha pátria é a língua portuguesa» e o meu lar é um dos caminhos porque todos os caminhos vão desaguar em Deus.
Virgínia Rafael