
Deus e a Fé, Razões do crente e do não crente é um livro que resulta da troca de correspondência entre José Ignacio Gonzalez Faus, jesuíta, Doutorado em Teologia e Ignacio Sotoleo Doutorado em Filosofia. O primeiro o crente, o segundo o não crente.A leitura deste livro que aborda várias temáticas religiosas, vem mostrar que é possível uma convivência dialogante na abordagem do que é central na atitude quer do crente, quer não crente: a visão de Deus, de Jesus e do ser humano.
Transcrevo dois excertos...Para pensar...
«Penso que o cristianismo é uma agudização deste esquema: amor de Deus que se converte em amor ao irmão ( e sobretudo ao menos irmão). Repara bem: não digo «do qual deriva», mas «que se converte». Aqui já não há mandamento, mas equação. Mas está sempre subjacente a intuição de que a fé religiosa tem a ver com a afectividade humana, como forma, ao mesmo tempo, da sua redenção e da sua culminação verdadeira.
Um autor bíblico rezava esta oração que se pode citar pela sua brevidade e beleza e que talvez exprima algo do que quero dizer: «Senhor, o meu coração não é ambiciosos nem os meus olhos altaneiros. Não pretendo grandezas que superam a minha capacidade; pelo contrário, aquieto e modero os meus desejos, como uma criança nos braços da mãe». Evidentemente quando rezo esta oração, nunca digo que não «é», mas que não quero que seja. Mas posso assegurar-te que esta oração significa muito para mim: uma confiança última em Deus, que o salmista exprimia de modo fantástico com a imagem da criança nos braços da mãe, coloca-me num quadro global para entender que a ambição do meu coração, a altivez dos meus olhos e a imoderação dos meus desejos (aqui aparece descrito tudo o que chamei o mundo da afectividade humana) não têm razão de ser, precisamente porque têm a sua realização num lugar diferente daquele onde a nossa afectividade tende a procurá-las. A convicção de que não têm razão de ser facilita infinitamente a minha atitude para com os outros.»
José Ignacio Gonzalez Faus, pág. 26
«O que deveria ser para o crente mais inquietante é que ele guarde para si a ideia que tem de Deus. Pelo menos é o que a minha experiência me diz, e isto, sim, chama-me a atenção. Em relação a alguns colegas, com os quais até trabalhei em questões teóricas, levei anos até saber que eram crentes – não se notava no seu discurso, nem no seu comportamento. E em relação aos que sabia que eram, quando tentei solicitar a ideia que tinham de Deus, sem negarem a sua fé, evitaram sempre ir ao fundo da questão. Não sei se sou uma excepção, completamente fora deste mundo, mas no mundo em que me movo Deus não aparece a brilhar como tema de conversa e menos ainda de discussão, embora, isso sim, alguns lhe rezem e se entreguem à sua vontade. Claro que o crente menciona Deus – uns com frequência, outros raramente -, mas, falar mesmo, o que se diz falar do que entendem por Deus ou do que experienciam com Deus, isso poucos o fazem. (…) Em síntese, o tema de Deus converteu-se em tabu para a imensa maioria, crentes ou não, e, portanto, monopólio exclusivo dos profissionais, os teólogos, que são os únicos a quem se ouve falar de Deus. Mas também eles não falam do que experienciam.»
Ignacio Sotelo, pág. 80
Sem comentários:
Enviar um comentário